Quando a Naza dá uma força aos romances
Foi durante a Trasladação do Círio
no ano de 2005 que Bianca Araújo Della Lastra e Henry Brandão da Cruz
se encontraram pela primeira vez. Ela, que é médica, estava trabalhando
como plantonista em um posto de atendimento de urgência. Ele já estava
na correria habitual por ser um dos voluntários efetivos da Cruz
Vermelha – filial Pará.
Depois de um breve contato, Henry a
procurou, dez dias após o encontro no Círio. Foi até a casa de Bianca e
ela estava saindo para um plantão; ela disse que não poderia conversar
com ele naquele momento. Na semana seguinte, decidiram ir para uma
boate.
“Mas eu chamei a minha prima. Não ia
sair com alguém que eu mal conhecia”, diz Bianca. E hoje, esse alguém
que ela mal conhecia, que viu pela primeira vez apenas por alguns
instantes, é seu marido.
Bianca e Henry já estão juntos há cinco anos. Desde que começaram a namorar, ainda em 2005, decidiram que iriam se casar.
Histórias como a de Bianca e Henry não
são tão comuns. Normalmente os romances começam no Carnaval, nas férias
de julho... O Círio, por ser um momento mais voltado ao encontro com
familiares, dificilmente proporciona um clima de namoro. Mas é claro que
muita gente aproveita a procissão de fé para pedir uma ajudinha à
Virgem e assim resolver os assuntos do coração.
Em sete meses, Bianca e Henry começaram a
namorar, noivaram e casaram. A família não acreditava muito que o
relacionamento pudesse dar certo. Mas a vontade de ficar juntos e
construir uma família foi mais forte.
Desde então, o período da semana do
Círio tem um valor extremamente especial para eles. Hoje com dois
filhos, Henry Jr., de cinco anos, e Anna Beatriz, de um ano e três
meses, Bianca e Henry continuam a dedicar-se integralmente às atividades
voluntárias da Cruz Vermelha.
As famílias de ambos já sabe: sábado e
domingo eles estarão ausentes. “Até então eu não tinha muita fé. Achava o
Círio mais um evento cultural do que religioso, que era para reunir a
família, os amigos, almoçar, tomar umas cervejas”, conta. “Eu via a
passagem da Santa, a romaria fluvial, a descida do Glória, o manto...
mas me achava só mais uma no meio de tanta gente. Agora é diferente. Não
estou apenas acompanhando o Círio, mas fazendo algo pelas pessoas”,
relata a médica.
Em 2005, quando do encontro com Henry,
ela sequer tinha interesse em participar do Círio, como plantonista.
Estava em um posto da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) porque havia
sido aprovada em concurso público para urgência e emergência, e deveria
obrigatoriamente trabalhar naquela ocasião.
Bianca e Henry nunca imaginariam que
suas vidas estavam prestes a mudar por completo. Ela já não acreditava
em relacionamentos duradouros e havia terminado um noivado antes de
conhecer Henry. Ele também, depois de um longo namoro, já estava
solteiro. E com a benção da Nazica, naquele dia 8 de outubro, durante a
trasladação, o encontro aconteceria.
“Não teve jeito. Pra mim, a gente já começou a namorar naquele primeiro dia”, conta.
Os filhos, também foram graças divinas.
Bianca acreditava que não podia engravidar, por conta de problemas de
saúde e de fortes tratamentos hormonais. Até que um dia decidiu parar de
tomar os medicamentos.
“Parei por conta dos desconfortos,
efeitos colaterais, mas sem pensar em gravidez”, conta. E foi em uma
viagem a São Luís que ela começou a desconfiar que poderia estar
grávida. Começou a enjoar ainda no ferry boat. “Chegando à capital
maranhense, fiquei à base de muito café preto, peixe frito e arroz de
cuxá”, diz.
E em 2008, Anna Beatriz nasceu, mesmo
depois de uma gestação de risco, e cinco princípios de aborto. “Você
acredita que agora que parei para pensar. Já são cinco anos... A gente
nunca planejou muito: tem que terminar a faculdade, casar e ter filhos.
Não dava muito para pensar, fomos deixando a vida nos levar”. (Diário do
Pará)